2022_Córrego do Feijão: Projeto Território-Parque
Córrego do Feijão – Brumadinho, MG, Brasil
MACh arquitetos
Arquitetos responsáveis
Fernando Maculan
Mariza Machado
Coordenadora de projetos e equipes
Luciana Czechmeister
Arquitetos colaboradores
Anna Lobato
Cássio Lopes
Giovanna Camisassa
João Facury
Luiza Salomé
Marina Vilela
Rafael Yanni
Ricardo Lobato
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Connatural Arquitectura y Paisaje
Arquitetos responsáveis
Edgar Mazo
Sebastián Mejía
Arquitetos colaboradores
Daniela Suárez
Erica Martínez
Juan Manuel Bernal
Milena Ruiz
Natalia Villada
Paula Palacio
Santiago Hurtado
Santiago Restrepo
Susana Franco
Julián Giraldo
Inovativo soluções sustentáveis
Biólogo responsável e coordenação geral
Luiz Glück Lima
Engenheiros sanitaristas responsáveis
Luiz Mário Queiroz Lima
Priscilla Kern
Colaboradores
Augusto Peixoto dos Santos
Edmundo Queiroz Lopes
Fábio Macedo de Lima
Igor Matheus V.M. Madeira
Joaquim Júlio Lacerda
Arquiteto Ilustrador
Rodrigo Ciccarelli
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Felipe Fontes Arquiteto Paisagismo
Arquiteto paisagista responsável
Felipe Fontes
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Atiaîa Lighting Design
Arquiteta responsável
Mariana Novaes
Arquitetos colaboradores
Camila Rocha
Elisa Campos
Pedro Ferreira
Hardy Design
Direção
Mariana Hardy
Cynthia Massote
Coordenação de Criação
Leandro Passos
Pedro Albergaria
Gerente de Projeto
Beatriz Fonseca
Mariana Muchon
Designers
Gustavo Magno
Hermano Lamas
Pamela Gomes
Tobia Hallak
Vitor Garcia
Redator
Lucas Rodrigues
Produção Gráfica
Daniele Pires
Rita Abdo
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LIRE
Engenheiro Arquiteto Responsável
Lizandro Edmundo Cordeiro de Melo Franco
Arquiteto colaborador
Rafael Sanzio Nunes Fonseca
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Facury Gestão de Processos
Engenheiro responsável
Jorge Facury
Arquiteta
Carolina Almeida
O projeto Território-Parque parte do enorme desafio de reestabelecer e criar condições urbanas, arquitetônicas e paisagísticas para que a comunidade de Córrego do Feijão – principal impactada pelo rompimento da barragem em janeiro de 2019 – tenha condições de permanência e reconexão ao lugar de sua origem e história.
A expressão Território-Parque anuncia o propósito de articular o espaço urbano à paisagem em que está inserido, de modo a fortalecer a relação das pessoas com a natureza. A estratégia de projeto de orienta por um vínculo socioambiental presente em cada solução adotada, com origem na valorização da água como elemento central para a vida neste território, e ênfase na universalização do saneamento básico como um passo inicial para a busca de alternativas de abastecimento de água, implementação de coleta e tratamento integral de esgoto e destinação adequada dos resíduos sólidos.
Por um lado, as propostas apresentadas buscam atender aos valores, às expectativas e propósitos da comunidade, cuja escuta se deu a partir de uma série de encontros promovidos pelo Instituto Kairós, que conduziu a integração socioambiental das ações planejadas. Adicionalmente, e com o intuito de ampliar e reconhecer essas ideias a partir de uma visão territorial sistêmica, o projeto contou com a reflexão de uma equipe formada por profissionais de áreas como arquitetura, urbanismo, sustentabilidade ambiental, biologia, saneamento, paisagismo, design, iluminação e comunicação e diversas especialidades da engenharia.
O projeto Território-Parque é composto por quatro grandes áreas contíguas e integradas – área Central, Campo de Futebol, Parque Ecológico e área Simbólica -, que guardam suas particularidades e serão apresentadas de forma independente.
O projeto Território-Parque propõe a implementação de redes de coleta e tratamento de efluentes para toda a comunidade. As propostas para o saneamento apresentam soluções ambientalmente eficientes de baixo custo de implantação e de operação – exemplo das nascentes construídas e dos jardins filtrantes -, considerando atributos locais de topografia e valores paisagísticos, contribuindo para a saúde da população e para a preservação do meio ambiente.
Área Central
Praça Central
Até pouco tempo atrás, o solo exposto, sem qualquer cobertura vegetal, era o que definia a maior parte da praça central. Uma pequena área, entretanto, a que a comunidade se referia como bosque, reservava através de ocupações espontâneas a chave para o que seria a proposta arquitetônica e paisagística que hoje se vê implantada.
A área do Bosque foi ampliada após o novo desenho da via de acesso ao Córrego do Feijão, dando espaço a jardins com espécies medicinais e ornamentais características da região e presentes nos jardins à frente das casas da comunidade.
Nesta mesma área, as caixas de água potável existentes deram lugar a um único reservatório com capacidade de 60m³, capaz de atender a toda a comunidade. Em torno do elemento infraestrutural, foi proposto um acesso helicoidal até o topo, que permite uma ampla visão e compreensão do território, em todas as direções.
Outros espaços compõem a praça: a pérgula circular, que articula a praça e o edifício do centro de cultura; a pequena esplanada pontuada por colinas gramadas; e o mercado comunitário, ocupando a casa de adobe existente, ladeada por dois novos blocos que abrigam um espaço de alimentação e uma cozinha, ambos de gestão comunitária.
Mercado Comunitário
O Mercado Comunitário contará com espaços de exposição de alimentos e produtos desenvolvidos e comercializados pelos moradores, na chamada Casa de Adobe, uma construção existente feita com a participação da comunidade e restaurada no projeto Território-Parque. Duas novas edificações com fechamento em cobogós cerâmicos (marca registrada de alguns mercados mineiros emblemáticos), acolhendo produções de padaria, confeitaria, pizzaria e cozinha geral comunitária. Todos os espaços geridos pelos próprios moradores.
Em torno à espacialidade de vila configurada pelas três edificações, é criado um Jardim que valoriza características próprias da região, com projeto paisagístico que busca uma atmosfera de recanto, enobrecido pela presença marcante dos tamboris e de suas sombras generosas, atrativo natural para moradores e visitantes.
Centro de Cultura e Artesanato
A proposta é que esse espaço seja uma extensão natural da Praça. Os espaços internos da nova edificação estão implantados em cota próxima à da rua inferior (rua 1), de modo que a cobertura possa se configurar como um grande terraço nivelado com a praça. O belo terreno, com inclinação suave entre as ruas 6 (da praça) e 1, sugeria a criação de pequenos patamares e pátios em diferentes níveis, capazes de abrigar atividades ao ar livre e à sombra das árvores, muitas delas existentes e preservadas, a exemplo do abacateiro que se tornou referência desta área.
A construção abrigará espaços de apoio a atividades culturais, oficinas e criação de produtos artesanais, como também prover espaço para a biblioteca comunitária, sala de informática e da administração da Associação Comunitária.
O novo campo de futebol de Córrego do Feijão será situado no terreno que fica na margem oposta à do Parque Ecológico, na via de acesso à comunidade por Casa Branca. A área do campo é entendida, portanto, como uma extensão natural do parque. Dando ênfase a essa percepção, o campo e sua estrutura de apoio são pensados a partir do conceito de “um campo dentro de um parque, onde a presença e o estímulo ao crescimento de uma vegetação de maior porte serão incentivados para estabelecer uma relação muito próxima com a arquitetura.
O Campo de Futebol terá dimensões oficiais para que se enquadre nas regras dos campeonatos regionais, contando com edificações de apoio que ofereçam todas as instalações necessárias para atender a jogadores e público. Ao mesmo tempo, tanto o campo quanto as instalações devem oferecer condições para a realização de diversas outras atividades e eventos.
Como estratégia para a implantação do campo de futebol, pretende-se utilizar o material do corte do terreno para criar pequenas colinas que sirvam para ver os jogos, como arquibancadas naturais que também oferecerão outra forma de experienciar o território, espaços do brincar.
Área Simbólica
Jardim Sensorial e Capela Velório
A área do antigo campo de futebol foi fortemente marcada pelas ações de resgate em razão do rompimento da barragem de Córrego do Feijão, em janeiro de 2019. Como parte das ações do projeto Território-Parque, é proposta uma intervenção paisagística em respeito à memória e à reflexão pelas 272 mortes.
O projeto consiste na criação de um espelho d’água que preserva os contornos do vazio deixado pelo antigo campo, lhe conferindo um novo significado. Será preciso atravessar esse espelho d’água para alcançar a porção central do espaço, caracterizado como um jardim sensorial, repleto de aromas, texturas e sons que promovem a percepção dos ciclos da natureza.
A implantação da capela-velório, uma obra sensível e muito esperada pela comunidade, será realizada na extremidade oposta ao cemitério existente, que é tema de restauro e ampliação. A capela ficará pousada sobre a água, como um elemento em suspensão. A partir da capela, a ideia é que o percurso até o Cemitério seja feito através do jardim sensorial, tornando o tempo de percurso e a experiência da paisagem parte do ritual de despedida.
Cemitério e Casa das Borboletas
Uma construção existente próxima ao cemitério abrigou, entre outros usos anteriores, as atividades relacionadas aos resgates após o rompimento da barragem de Córrego do Feijão. O local tem, portanto, relevância na memória dos impactos do rompimento para a presente e futuras gerações da população de Córrego do Feijão.
O que se propõe é preservar o local simbólico, substituindo integralmente a materialidade do prédio por uma estrutura branca esbelta, que preserva a forma anterior por suas arestas, e que serve de suporte a uma vegetação constituída por espécies e flores que atraem as borboletas. A presença da água neste local contribui para que se crie um espaço de pausa e reflexão.
O Cemitério é delimitado por um perímetro retangular de muros de pedra seca, sem argamassa, uma técnica construtiva tradicional na região, reconhecida e admirada pela comunidade. No projeto Território-parque, a expansão do Cemitério deve ocorrer em uma sucessão de Pátios interligados, separados por espelhos d’água. O primeiro desses pátios já está configurado no cemitério existente.
Além disso, é proposta a delimitação das sepulturas com contornos metálicos delicados, com a intenção de compor pequenos jardins, a critério dos familiares. Os percursos existentes são preservados e melhor definidos com lajes de quartzito, mantendo seu desenho rizomático.
Na área do Parque Ecológico, estão previstas poucas e diferentes formas de intervenção, de acordo com o nível de recuperação ambiental reconhecido em cada parte do terreno. Nas áreas com maior cobertura florestal, o projeto prevê a construção de caminhos com pedriscos e sistemas de passarelas e mirantes com pisos drenantes sobre palafitas, a fim de que o visitante possa reconhecer diferentes estratos e espécies de vegetação, além de observar a fauna local.
Nos trechos que correspondem a estágios iniciais de regeneração da mata, além dos caminhos e das passarelas, são previstas estruturas de apoio ao visitante e à produção agroecológica florestal, como viveiros e estufas. Em resumo, as áreas com menor cobertura vegetal deverão no futuro se tornar mais densas e cheias de árvores, com potencial econômico para a comunidade, o que inclui o Ecoturismo e as atividades esportivas possivelmente relacionadas a este ambiente.
O Parque também contará com um edifício de apoio ao visitante, assim como um pequeno anfiteatro, que poderão acolher eventos e ações relacionados à educação ambiental, à produção agroecológica, ao lazer e à cultura.
Além disso, especial cuidado é dedicado ao projeto de um conjunto de piscinas públicas, que são uma resposta direta a desejos da comunidade, em especial das crianças, pelo uso recreacional da água.